sexta-feira, 30 de julho de 2010

Sem Título

São quatro horas da manhã, quando eu tentei dormir eram duas. Acho que eu nem dormi, mas lembro de ter sonhado.  Estou sonhando com estranhos novamente, acho melhor assim, pelo menos não tenho mais aquelas idéias que sonhos são transcendentais. Não penso mais deliberadamente em uma conexão sonho e realidade. Talvez eu tenha perdido o sono porque já dormi demais, sinto que deixei a vida passar (inconscientemente). A pior parte vem quando você não sabe o que fazer acordada, e deixa a vida passar de qualquer jeito (conscientemente).

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Eles

- você vai continuar fazendo isso?

- qual o problema?

- eu não quero nem ver

- não vê, então

- você tem que fazer isso?

- é uma coisa natural

- vou fechar os olhos pra não ser cúmplice disso.

- não adianta nada, você sabe que eu ainda to fazendo e enquanto eu falar, só vai vir os flashes na sua cabeça com uma imagem minha colo...

- cala boca la-la-la

- pode abrir, eu já parei

- mentira sua

- então tá, fica de olhos fechados igual uma boboca

- eu posso ouvir, você ainda ta fazendo

- então, ouve isso  “Dooooon’t let me dooooooooown, don’t let me dooooown”, vamo, canta é a sua parte.

- “nobody ever love-“ não, não, eu sempre entro na sua. você não cantar nem abrir os olhos.

- estou com os meus fones especiais, não ouço bobocas eu só CONSIGO OUVIR O ROQUE DO JOHN. CANTE MAIS ALTO!

- ei, devolve minha mão, só eu posso fazer ela de microfone

- VEM CÁ, OLHA COMO SOMOS BONITOS

- sabe “nobody loves me like you do”

Japão e Seus Corações de Ouro - Parte 2


Minha bandeira são esses sorrisos e abraços vendo nossos corpos, mesmo que atormentados, voltando de combate com vida. Nossos sentimentos devem formar uma oligarquia, para nos alimentar de vontade de retorno ao nosso vilarejo. Andamos com nossos hanbos ensangüentados, muitos sem donos. Algumas kamas espreitando perigo à cintura. Andamos com a nossa vida propagada em instintos de proteção. Não mais que isso, eram apenas amor e proteção que as nossas cabeças entendiam. Depois, inevitavelmente, forçamos o mergulho na soberba; e analogamente, as gotas d’água que se espalham, com a velocidade de impacto de nossos corpos no mergulho, são apenas os pensamentos de vergonha e tristeza que nosso povo viria a ter se nós não voltássemos. Gotas que voltam pro mesmo ciclo de água.

Aparentemente, não precisamos mais lutar, ainda assim somos treinados para o futuro. Passando os ensinamentos de geração a geração, aprimorando o que já pareceu inevitável. 

Podemos viver livremente, conquistamos algo para os nossos ancestrais e descendentes. Terra, água, fogo e ar. Temos calos, temos memórias sorridentes e chorosas. Mas nada que possa combater com a nossa capacidade de deixar tudo isso para trás, com a fome de uma vida que sempre nos foi prometida. Cada dor é uma dor nova. Cada alegria é uma nova alegria. Vivemos, sim, em um minimizado pela luta, tenho espírito aventureiro que me faz respirar novas fronteiras e idealizar novos conhecimentos refletidos em meus poucos anos de juventude livre.

Vivemos dispostos a procurar por nossos corações de ouro. Explorando apenas o disponível: o nosso interior.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Japão e Seus Corações de Ouro - Parte 1

O meu povo é um povo feliz com lembranças tristes, chego a pensar que fingem seus jantares em família e seus brindes, mas não, só estão tentando seguir como qualquer um faria. Meu vilarejo já foi pintado de sangue, esgotado de almas vagantes, lotados de lágrimas. Foram-se os inocentes e os culpados, hoje, ficaram corpos com um pouco de história, inclusive o meu.

As imagens dos nossos heróis e suas histórias de combate, agora, habitam o mesmo lugar: nossos corações ainda aflitos – mesmo os anos tentando nos encantar de outros jeitos, ou ainda nos cansando, nos tornando terríveis, insensíveis ao ponto de não chorar por já estarmos acostumados com a dor. Talhamos os nomes heróicos em hiragana nas paredes internas de uma casa velha, a qual por muitos anos a ignoramos e hoje a chamamos de “templo”. Uma casa velha, como a nossa dor; uma casa de madeira, frágil como a nossa ambição de viver. É meu lugar preferido. Fora feito há muito tempo como moradia, os homens jovens da época construíram para que fosse só mais uma do vilarejo; a família, que nela dividia-se, hoje se resume em histórias. Eu sou da época desses homens jovens, que em sua maioria, agora são heróis, a minoria se perdeu no tempo, contrapondo a sua vontade de lutar desde criança; não foram considerados heróis mas tiveram espíritos de tal semelhança em sua vontade. Assim como eu. Inevitavelmente, agora, beiro a morte, e por conseqüência desse “agora”, não terei meu nome como marca naquele “templo”, talvez o não ser heroína é uma conseqüência: aqui não há lugar para mulheres, só para seus antecedentes e sucessores homens.

Nesta região, que se tornou inóspita pelas sucessivas guerras entre tribos vizinhas, fizemos nosso lar, unimos nosso império. Prometemos que cada ano seria mais próspero que anterior, e com muita vigor viemos conseguindo.

Ao som do koto, a calmaria manifesta-se. Todas as mulheres, uma por vez, dedilham a paz com dez dedos. As canções tradicionais ainda são as que encantam, as que perturbam mesmo ensaiadas. Somos muitas atrás de um coração de ouro, que valha o dobro de nossas riquezas, que seja tão puro como nós. Somos eternamente mulheres, no meio do nada, no meio de muitas, procurando o único conforto de um coração de ouro.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Cavalos ainda não descem escadas

Arnaldo, eu quero decolar toda a manhã contigo em um mundo de cristal, em um mundo surreal. Nós somos dois que não estamos nem aí pra morte, não estamos nem aí pra sorte, já pensamos que éramos ruins e choramos de amor pela humanidade.

Eu não queria que tu não pensasses mais, sei que é perverso, mas eu quero que tu lembres até do quarto andar, eu quero saber todos os replays que embaçam o teu olhar. Tudo aquilo que errou, ah, Arnaldo, eu seria o teu dinheiro.

Nós nunca nos encontramos, tu sequer sabes da minha existência, mas tantas vezes minhas colchas e meus lençóis já se encontraram por ausência de alguém entre eles. E assim como tu, eu vivi. A paz parece ser forte. Amamos tantos gritos, rimos dos gritos. E tudo começou outra vez. 1, 2, 3. Talvez porque tu “estavas” ali comigo.

Porém ao contrário de ti, não me apego às coisas matérias, prefiro te imaginar dando “bom dia” para as flores, pintando quadros.

Eu só penso em o quanto eu quero cantar bem alto na Augusta para que tu possas me escutar, como um chamado. Porque eu realmente não sei onde te encontrar, não sei por que te escondeste em Juiz de Fora. Sei que preferes assim, mas poderíamos tomar um chá, depois tu me mostrarias tuas artes, e logo em seguida iniciaremos um musical, contigo no violão, teclado, bateria, tu podes escolher.

Talvez, Arnaldo, tu sejas a pessoa mais bonita que eu já ouvi falar.

Eu queria comer do teu bolo, queria te cumprimentar, te poder fazer de avô, queria rir das tuas piadas e do teu sotaque paulistano - aquele “érre” puxado. Enfim, te parabenizar pelos teus sessenta e dois anos. Desejo poder chegar a tua idade assim, me achando meio malandra velha e gostando de viajar.

Sei que Lucinha, agora, cuida bem de ti, e que mais ninguém encanta teu coração. Mas tenho que te falar: a melhor música ainda é Dia 36.

Arnaldo, vamos sentir o barato de todos os tempos até quando Deus quiser. Vamos procurar nosso disco voador, vamos pescar pessoas.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

22:43

Lívia. diz:
*eu estou em uma complexa luta por mim mesma.
Lívia. diz:
*a qual eu ou eu podem ganhar.
Edu.     you spin me right round, like a record     diz:
*pelo que estão lutando?
Lívia. diz:
*pela razao.
Lívia. diz:
*é claro que eles irao usar de qualquer artifício pra isso, talvez eu acabe deprimido e o eu acabe demasiadamente exarcebado de poder.
*ou vice e versa
*a razao é um conhecimento maior, e cada um quer ser maior que o outro.
Edu.     you spin me right round, like a record     diz:
* http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e3/Le_songe_de_la_raison.jpg
Edu.     you spin me right round, like a record     diz:
*e como você pretende se vencer e conquistar tal ?
Lívia. diz:
*é como eu disse: cada um vai usar as suas armas.
Lívia. diz:
*ao que me parece um tem o coração e o outro tem a cabeça.
*e nem se pode desmerecer o coração, ele parece fraco, mas engana.
Edu.     you spin me right round, like a record     diz:
*não o desmereço, conheço o poder do desgraçado
Lívia. diz:
*a cabeça está mais ligada a razao, em tese.
*mas eu acho que é só uma questao de lexico.
Lívia. diz:
*"você tem razão" nao é especificamente razao racional.
Edu.     you spin me right round, like a record     diz:
*teoricamente, mas o coração possui uma força que ultrapassa qualquer definiçao lexica...
Lívia. diz:
*é verdade.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Éramos Velocidade.

Não, tempo. Não, espaço. Sim, velocidade.

Em busca de céus laranjas, eu tentei não perder a coordenação. Nós acordamos, e caímos mais um pouco. Ilusoriamente esgueirando-me da confusão, me camuflando em demência para diminuir o caos, não obstante estariam meus olhos fechados encontrando a última raspa de certeza ainda fluente: o teu sorriso, que ativou um protótipo de paz, e naturalizou o reflexo de um outro sorriso, feito por mim. Passando os dedos na superfície dos meus lábios, busquei algo mais freqüente teu, e em virtude do próprio peso dos dedos e o desconforto das unhas me desguiei, perdi. Encontraram-me em conflito.

Foi culpa minha, eu me corrompi para realidade, enquanto nós éramos pura velocidade. Eu já deveria saber, foguetes caem onde foguetes caem.

Um Encontro de Verdades.

[O texto que segue não encontrou um devido final, está expressamente trancado nas idéias que fugiram do controle ou entraram muito dele e não se destacou. Decidi por publicar por já ter enjoado do nome do texto no meio dos meus arquivos. Segue.]

- Eu nunca pensei que fosse tão difícil escrever o conceito de verdade, meus amigos – disse Jean Piaget, com um de seus charutos suíços na boca, entre risos.

Os senhores, que ainda estavam dispostos a desfrutar de um humor barato, o acompanharam nas risadas. Se alguma evidência poderia ser tirada, deveras seria que aquele grupo estava beirando sua “quase desistência” de futuras teorias, naquele instante. Lançavam olhares entediados; riam depois de fazê-lo, para esquecer o preceito, para debochar do estado alcoólico do outro mesmo estando taças de vinho à frente. Era bem perceptível a competição entre o cheiro do suor e do álcool; não era esperada outra coisa, vindo de uma reunião de homens velhos com barbas por fazer, bebendo vinho e discutindo filosofia.

O encontro estava certo há uma quinzena; dados os telefonemas, envios de telegramas e cartas, tudo já estava esquematizado. Pelos países da Europa, América e Ásia, a notícia do encontro foi se espalhando. Alguns desdenhavam, soltavam leves risos duvidosos combinados com sarcasmo ao ver o nome de Sócrates como o anfitrião, outros ficaram honrados e ainda previam conceitos que mudariam a filosofia.

(Paris, 17 de março de 1919)

Enfim, estavam ali: sentados em volta de uma mesa arredondada, centralizada na sala (de mais ou menos 7x6 metros) acompanhada de tragos charutos, bocejos, vinhos e homens das mais diferentes nacionalidades e idades.

- É verdade, meu caro, concordou Sócrates, estamos aqui com vinte e seis livros abertos; entre eles, dicionários, livros de sociologia e filosofia, mas nada de uma primeira linha.

Sócrates falava como um líder, era o mais velho, o mentor do encontro e previamente o dono da maior quantidade de livros ali expostos – nada que intimidasse seus companheiros. Na mesa não havia cabeceira, se houvesse, de certo ele a tomaria.

- Senhores, eu abstenho-vos dessa inércia. Querem uma idéia? Pois bem, então redija nessa sua máquina, Sócrates. Eu tenho uma idéia! gritou Descartes seguido de um belo gole de vinho.

- Ora, se tem! Vamos, comece. - duvidou Sócrates.

- Espetacular, Descartes!- gritou um coro de bêbados.

- Não perderemos tempo, senhores. Coloque uma folha nova para um novo conceito, Sócrates – chamou a atenção. Verdade é a boa interpretação de uma sentença, ponto seguido, Pode vir como uma metáfora, vírgula, mas se for bem interpretada, vírgula, essa é a sentença com a qual tu te identificas com a verdade, vírgula, o teu ponto de vista, ponto seguido, A má interpretação é uma falácia, ponto.

- Com todo o perdão da sinceridade a que me cabe, eu te digo que não aprovo. Não soa como uma definição... - disse Sócrates sem tirar os olhos do papel.

- Ora, é porque tu não soubeste interpretar a verdade de Descartes. Seguiste a tal da falácia.

Caíram no riso, o clima ruim já conhecido entre Descartes e Sócrates tem um novo alicerce.

- Amigos, riam, - começou Piaget, agora de pé e falando em alto e bom som- mas o que me preocupa não é a verdade, o que me preocupa é a mentira. Os senhores já imaginaram quantos vão querer uma definição de mentira para ter algo a seu favor? É simples pensar: todos mentem, alguns mais mentem do que exercem a veracidade. A mentira já é quase considerada o certo de tanto ser escolhida, virou o senso comum dessa população.

- Se definirmos o conceito de um, não teremos o de outro? Não são antônimos?

- Dependendo do ponto de vista, meu caro. – disse Descartes, ainda de costas, para Sócrates enquanto servia-se de mais vinho. O que pode ser uma verdade para ti, é uma mentira para mim, por exemplo – jogou o conteúdo do copo contra a parede branca, para a perplexidade da platéia. Isso para ti pode ser vinho como para mim é sangue. São duas verdades porque são dois conscientes e até então não há alguma prova de que é vinho ou sangue.

Sócrates fica estagnado na mesma posição por cinco minutos, parece não refletir nem mesmo respirar. Agora, estava sem chão.

- Esses conceitos são puramente teóricos, indagou Nietzsche. Eu quero que tu me proves uma mentira evolutiva. – bateu a mão na mesa para chamar a atenção para si. Porque para mim, vos digo, falso é tudo aquilo que é obstáculo na vida construtiva de um ser; e verdadeiro é aquilo que ajuda a fomentar a vida da espécie.

- Não seja tão pragmático, Nietzsche. De pragmáticos já estamos abastecido por aqueles norte-americanos. Aliás, é extremamente curioso não saber o porquê de Dewey não poder vir. Os senhores têm conhecimento da causa?

- Não vamos desconversar, Habermas. Até concordo com o triplo consenso de William James, Dewey e Pierce: a prática é o critério da verdade. Nesse caso, a verdade de uma proposição se estabelece a partir de seus feitos, dos resultados práticos. É por isso que lhes dou a certeza que o conceito deve adquirir um conceito existencial, e não um valor racional.

- Eu tenho um conceito para a mentira! – Descartes quebra o silêncio da reflexão proferida por Nietzsche.

- É claro que tem, Descartes. É claro que tem. Pode começar, estou redigindo. – Sócrates completa.

- Vou esperar o teu nível de sarcasmo abaixar para que não respingue no meu raciocínio.

- Terás que encomendar mais vinho, meu caro.

- Anote. Só anote – Descartes coloca o dedo com força no papel, assumindo a pseudo-liderança. A mentira é preconceituosa, vírgula, ela pode ser inventada, barra, imposta a partir de um ponto pobre, entre parêntesis: “sem conhecimento” e egoísta. Além de ser empírica, vírgula, pois não há uma suposta mentira. Ela é concreta. Se for suposta é uma teoria.

- Não que eu queira dar um ousado levante no teu humor, Descartes, mas vossos conceitos estão melhorando. – diz Sócrates dando um fraco tapa na máquina de escrever para poder concluir o escrito.

- Isso é uma verdade. – debocha . Mais vinho para Descartes!
Os bêbados comemoram levantando suas respectivas canecas.

- Senhores, um minuto, pois para mim, isso não quer dizer nada. A mentira é um jeito de manipular a sociedade! – diz Marx como se tivesse guardando o segredo por tanto tempo, para poder chocar mais.