quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

70ucur4


Faz tempo que eu vejo coisas que não existem. Que tipo de coisas? A televisão pingando, balões ilustrativas de pensamento saindo das cabeças das pessoas com conteúdo contraditório ao que elas falam, cachorros fumaçando.

As nuvens estão se espalhando rápido, hoje. Vai ser um dia bonito, certamente. As formigas vão trabalhar em paz.

Essa casa não está bem posicionada, já percebi isso. Sabe quando você acorda sabendo que alguma coisa está errada? Essa casa tá errada. Primeiro achei que era o colchão que tava torto, comprei outro, depois achei que era a cama, cerrei os pés da cama milimetricamente ao meu gosto, depois achei que era o piso, e coloquei apoio sob os pés da cama; agora é a casa, esses trapaceiros construíram minha casa torta, em terreno torto e eu paguei por isso.

Sabe outra coisa que parece errada? A ordem dos números. 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9. Quer dizer, está na ordem crescente, mas ainda assim acho que 7 parece maior que 8, por exemplo. Números ímpares condensam uma autoridade entre si, como se cada um parecesse uma graduação e os pares só fossem um espaçamento, um período, talvez um teste para que se chegue a ser melhor, a ser enfim um 9. Mas para chegar em alguns ímpares deveria ter mais respeito, é assim que eu encaro. A ordem correta: 1, 2, 3, 4, 6, 0, 5, 8, 7, 9. Muitas coisas são decididas entre 0 e 5 – meus preferidos. Tão perto e tão longe.

Clareou o dia, tão bonito. É provável que seja um bom dia pra ir ao centro pra comprar minha rede e sete trancas novas pra casa. Sete. Que é melhor que oito.