terça-feira, 29 de dezembro de 2009

17

17 pedras na janela.
17 pedras para tropeçar.
17 motivos para desistir.
17 consequências para amedontrar.
17 pessoas para recordar.
17 velas à soprar.
17 passos à ecoar.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Parte I - A Consciência fala

    Confesso que é difícil escrever em 1ª pessoa, me assusta. Nunca escrevi boas histórias com as terceiras e não acho que isso mudaria pela colocação do novo personagem: eu. Escrevo histórias tristes para mostrar meu poder a mim mesmo; mesmo que sejam personagens, acredito que eles viveram meia hora de leitura e de sofrimento para me fazer maior. Uma doença? Talvez, mas gosto de relê-los depois que a memória já apagou minha ganância de poder inspiradora de pessoas-meia-hora. Está claro, mascaro minha dor com Marias e Joãos, músicos e doutores; e os enfilero na estante em categorias para me sentir mais poderoso e sábio. Um deus (-meia-hora).

    O que pode parecer estranho é a impressão que o fato ocorre enquanto é lido, Clarice Lispector já dissertou sobre isso, por isso a intenção de escrever se restringe a minha curiosidade de ler daquele tempo orgânico. Aquele tempo que você não sente vendo os ponteiros pulando de minuto para minuto, e sim, por uma câimbra na perna causada pelo peso da outra perna; a mão suada na capa do livro ou os lábios e olhos cansados de correr atrás das letras. Pois bem, a coisa que me incomoda é saber o final, e adiantarei: deste não é bom.

    Em todas as artes gosto apenas do final. Pulo da página inicial para a final, tudo para saber o quanto eu terei que esperar pelo êxtase da leitura. Subitamente chega a vontade de engolir todo o livro sem mastigar, para não sentir que estou cheio de letrinhas e só depois dar um tapinha na barriga em peso, com a felicidade estampada na cara de quem não vai querer comer tão cedo. Sem mais delongas, produzirei meu "triste fim" por início. Sabendo que estou melhor sempre antes, guardarei o melhor para o "final".

    Eu provavelmente morri sozinho, tenho mais de 50 anos e me orgulho de não ter chegado a dar trabalho na "fase bebê" dos 70. Fui unicamente casado com o Meu Orgulho o que me impediu de conhecer minha única filha direito. A mulher que me deu minha única herdeira foi a única que transou comigo não sabendo do meu "poder" financeiro e mesmo assim, fiz questão de lhe dar um pouco do meu tesouro para, enfim, sumir do meu caminho. Eu jamais seria capaz de trair Meu Orgulho com o Amor.
   
    Acabo de saber que minha filha, Rita, morreu de câncer no cérebro e falência múltipla dor órgãos. O que me deixou em choque foi perceber que o que estava sentindo, na hora do telefonema, era pena e não a falta do chão que o amor por ela me causaria. Não soube o que era a saudade e nem pedir perdão pela única coisa que poderia ter valido a pena na minha vida.
   
    A mãe, Wanusa, não quis me ver. Sou "isso" e mais "aquilo" na sua concepção. Talvez esteja certa, mas se for isso, meus personagens já sabem e sentiram o meu futuro castigo.

    Para não admitir minha solidão, providenciei quatro cachorros e três gatos, a quantidade de pêlos é relativa a quantidade de ração e dinheiro gastos com eles. Não suporto discutir que caso eu precise de alguém, eu não terei. Não é bom o pensamento que sentirão minha falta pelo mal cheiro da minha carniça já morta, mas aos 50 não quero mais ninguém administrando o meu dinheiro a não ser eu. Gastei mais dinheiro com meu animais do que com minha filha. Sempre iam ao veterinário por uma falta de apetite ou a grande quantidade dele; enquanto ela, já virara um vegetal. Nem toda a minha culpa impede a chuva cair. O mundo não parou.