quarta-feira, 22 de julho de 2009

EU TE AMO.

E ficou ali calado. Como quem ostenta não ser um deles. Enganava-se.

Era fácil poluir os olhos dele com aqueles atos ultrajantes.

Tornou-se desdenhoso de tudo aquilo que Ana poderia fazer contra o seu pedido.

Aquela cena, aquele encontro.

"Como alguém poderia adaptar sua vida sem uma pessoa?"- perguntou-se como se o sábio dos livros de sua infância pudessem responder.

Ostentava ainda mais aquele seu sentimento de ódio. Por ele, por ela, e por aquela hora: beijava a boca que não era dele.

Oh, desgraça acontecida.

E ficou mais uma vez calado. Fixou o olhar neles, como se a cena lhe secasse a fonte das forças para fechar-lhe os olhos.

As luzes se foram e para se acostumar de novo aquele espetáculo de horror não demoraria muito, apenas o tempo de suas pupilas dilatarem. Assim como sua dor aumentaria, e se segurando mais para não se expor em lágrimas.

"Hoje são os protagonistas em palco, amanhã estapam nos jornais os convites para o casamento"- torturou-se.

"Grande noite!"- falou baixo para o seu copo. Com o olhar fixados naqueles frangos de padaria, percebeu, então, que Ana não lhe diria nem "obrigado" por aquele amor que pintava seu coração. Ontem de amor, hoje de ódio.

Ana, oh Ana. Seu verdadeiro e único amor desde a infância. Ver que nunca a ganharia lhe deixou a beira de um redemoinho de pensamentos suicidas. Pobre do rapaz. Pobre do seu coração. Só não é pobre João, que em uma só noite conseguiu aquilo que ele lutaria até os dias de hoje. Ser João e passar heditariamente os contos e desvaneios de sua adolescência, era o seu desejo. O bom convívio não lhe ofereceu nada. Era o bom samaritano, e mais uma vez o galã roubava o coração da moça.

Ao contrário do que sentia, foi lá e cumprimentou os dois, como se o orgulho exarcebado, que tinha ido com as luzes, voltasse glorioso de uma luta de facas. Era melhor que eles, era melhor que todo aquele sentimento falso, fácil. "Só carícias, só desejos levianos." - pensou.

Como quem desdenha ser um deles ficou calado, após um oferecimento de bebida. Antes fosse a porção, como nos seus livros imaturos, que fizesse com que Ana se encantasse por ele. "Talvez seja." - iludiu-se. Porém Ana o bebeu, antes de todos e se apaixonou pelo que menos necessitava - o galã.

Chamaram-lhe a atenção por não ter respondido, contrangido riu de si, e logo depois riu acompanhado dos outros. Momento nobre, nem parecia que seu inimigo estava ali. Desfarçou seu ódio, pintou toda aquela expressão de tristeza para uma mais fingida com a ajuda dos dentes amostra.

Como Ana poderia fazer aquilo? Exibir aquela felicidade falsa em público. Ele lhe desejou a vida toda. Poderia contar a ela tudo o que já tinha feito para ganhar todo o coração dela, um pedaço, um terço, um mini-ventrículo. Todos os encontros forjados, as idas aos espetáculos de balé apenas para vê-la. Poderia declara-se ali, ali e para que qualquer um ouvisse. Mais um gole da bebida oferecida, apenas mais um gole e o faria.

Um beijo o jogou na sepultura. A lágrima de dor escorria pela face como se ela pegasse toda água de sua boca, para impedi-lo que pedisse socorro ou que implorasse por amor. Ficou imóvel. Escorreu outra, e essa secou seus olhos. Sentiu quebra-los com uma piscadela para não expor mais o tormento. Ana havia conseguido. Aquele amor se proclamou, agora, bem baixinho.

"Eu te amo".

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Sim, amor, eu me rendi.

Meus tempos são outros, são corrempidos pelas desventuras de minha idade. Imagino-me sega, surda, muda, mas não não-pensante. Irracional. Adolescente.

Meu coração se entrega muito fácil e rápido para esses tempos. Não serveria para um só dia de amor.
E sim, para vários.

Minha cabeça se rende, peca. É inevitável.
Álcool e beleza se fundem.
Indescritível vontade de fugir, mudar tudo, sexo, cores, atitudes e escolhas.

Não seria tão fácil me amar.

O Tempo.

Não sabia mais se o tempo que passava muito rápido ou se ele que não aproveitava nada.

Já guardava há alguns anos seguidos um dos maiores desconfortos na gaveta.

Eram linhas, eram amores, eram perguntas, eram pseudo-mortes.

Ele se sentia morto.

E o tempo passava.

E o tempo não esperava pela sua volta prometida junto com a garrafa vazia de uísque.

Ela se foi.

A chave dos seus tormentos está na fechadura.

Sempre pra abrir a gaveta e colocar mais coisas.

Mais coisas que não tem coragem de jogar.

Mais coisas que o tempo não deixa passar.

Sofrer.

Já teria dito que não sabia o que seria dele sem ela.

Nem o tempo sabe.

Passaram os tempos de alegria.

Reconquistar.

Pra quê?

Nada vale à pena se não se ver o tempo passar.