domingo, 12 de setembro de 2010

Poltrona Velha

Não existe melhor companheira do que esta poltrona velha, a qual esperei dois anos consecutivos de uso para que moldasse o perfeito assento do meu corpo. Revestida por um tecido macio, uma espécie de veludo, porém mais duro, não se encontra mais poltronas assim. Nem companheiras assim.

Estava cansado daquele sofá de dois lugares, agüentando o peso apenas de um lado, meio torto, suportando o desequilíbrio do meu corpo. Apossava-me apenas do assento esquerdo, o outro ficava para a comida ou livros; como destro, preciso do espaço para livre movimentação.

Esta poltrona decrépita aceita minhas caricias, como recompensa pelo conforto. Aceita que eu me aconchegue, que eu possa sorrir enfim, e ter a alegria medíocre de tirar os sapatos; minhas suaves menções de alívio ao chegar do trabalho.

Já o outro sofá tem o consolo do peso igualitário dos livros e copos sujos.

E quando o fio da loucura corta meus pensamentos, reclino-a tapando o meu nariz, de modo a imaginar que estou sendo batizado, mergulhando minha cabeça no rio Jordão da lucidez. “Agora, sou Mateus”. Abrir os olhos, para fechar de novo e tentar dormir. Esta que também me dá o passaporte para um mundo de encontros tétricos e afetivos, o mundo teórico, me proporcionando o melhor interlúdio dessa canção Vida.