sexta-feira, 19 de junho de 2009

O Amor

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa.

sábado, 13 de junho de 2009

Me transforma.
Me ilude.
Bate a minha porta como se fosse a coisa mais natural.
Me possui.

Me faz invejar tudo o que você toca.
Por favor, não vá.
Não hoje.
Continue a me transformar.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Ninguém me faz esquecer


Acende meu cigarro porque eu não tenho mais paz.


Não havia ninguém na festa e eu desliguei as luzes de casa mais cedo.

Nunca tive medo de ficar só mas também nunca considerei uma opção.

Hoje a noite eu rezarei por mim mesmo pra que amanhã eu não pegue este mesmo caminho.

Do meu ponto de vista falido.

O amor deve ser muito diferente do que eu penso. Não o consigo conquista-lo, tê-lo, e muito menos, defende-lo.

Talvez a idade que me faço hoje, me dê mais maturidade desde a última vez que pensei nisso. Ou não, pois caso não veja eu ainda não tenho nada do que almejo.

Certa vez, alguém me perguntou o que buscava na vida. Respondi com prontidão: "Meu bem-estar". Pensava naquela, eu, que não faz muito tempo, que minha resposta envolvia realmente tudo pelo qual lutava, pelo qual acordava todos os dias às 5 horas da matina e ia conquistar meus deveres e orgulhar meu ego, assim como o dos meus pais.

De certo, a minha resposta era a mais gananciosa possível. Mas garanto que quando a falei, não pensei em dinheiro e coisas materias.

E hoje, o que mais tenho é dó de mim mesma. Alegro-me ou entristeço-me de lembrar que o homem nunca está de bem consigo mesmo? A vida é uma obra contínua e na maioria das vezes o esforço não é recompensado instântaneamente; centenas de vezes também já ouvi depoimentos que de também a compensação não era-lhe mútua.

Ah, asneiras atrás de asneiras, digo-lhes. Ninguém está aqui para só sofrer e nem para viver aos sorrisos, penso. Mas não garanto que a tua caminhada seja doce e compensadora. Alguns acordam com o caminho trilhado, outros precisam acordar muito mais cedo que eu mesma pra conseguir algo.

Mas isto já outro caso que envolve politicagem, classes sociais e mais conceitos eu deveria estudar pra falar disto.

Em suma, não concordo com a esperança que cada um tens ao acordar. Posso me contradizer neste momento, mas irá fazer parte de minha tese de auto-conhecimento, e até de conhecimento antropológico. Não quereis, eu, me alongar muito.

Estamos aqui para conquistarmos o que devemos, destino talvez alguns acredite, mas não eu. Eu aconselho-te a seguir o caminho mais árduo e mais trabalhoso, o caminho desconhecido e que te parece mais apropriado. Segue teus instintos. A cada conquista tua, olha para trás, olha a tua vida como era e garante a ti mesmo que não declinarás. A cada tormento teu, una as tuas forças, a tua família e os poucos amigos fiés. Faz amigo aquele ombro que não é teu. Agarra-te também à alguma força que tu acreditas. Já nutrida a tua posição, enfrenta o teu medo, e lembras que ganhar este medo é uma conquista.

Faça dos teus dias os melhores, viva à moda "carpe diem".

Agora me pergunto como do prosposto início do texto vim parar a este caso. Pois bem, uma auto-análise e em instantes vos digo o que passa nesse coração que não se cala. Sofro por algo que nem forças, nem rezas darão jeito. O meu amor é raro, é dos mais impotentes. Este é fraco, mas mais fraco sou eu que não consigo vence-lo. E já estou aqui nesse estado emocional atormentado desde há algum tempo estimado. Sou do período romântico, não me nego. Quem dera eu, ser a carrasca que me agrada sonhar. Sem sentimentos profanos eu viveria mais tranquila. Sou inconstante como Augusto.

Ah, o meu "bem-estar" está longe de se divulgar concreto.
Palavras de Augusto:

- O que quiserem... Serei incorrigível, romântico ou velhaco, não digo o que sinto, não sinto o que digo, ou mesmo digo o que não sinto; sou, enfim, mau e parigoso, e vocês inocentes e anjinhos. Todavia, eu a ninguem escondo os sentimentos que ainda a pouco mostrei: eu toda parte confesso que sou volúvel, inconstante e incapaz de amar três dias o mesmo objeto; verdade seja que nada há mais fácil do que me ouvirem um "vos amo", mas também a nenhuma pedia ainda que desse fé; pelo ao contrário, digo a todos como eu sou; e se, apesar de tal, sua vaidade é tanta que se suponham inesquecíveis, a culpa, certo que não é minha. Eis o que faço. E vós, meus caros amigos, que blasonais de firmeza de rochedo, que jurais amor eterno cem vezes por ano a cem diversas belezas... sois tanto ou ainda mais inconstantes que eu!... Mas entre nós há sempre uma grande diferença; vós enganais e eu desengano; eu digo e vós, meus senhores, mentis...

- Está romântico!... está romântico!...- exclamaram os três rindo às gargalhadas.

- A alma que Deus me deu - continuou Augusto - é sensível demais para reter por muito tempo uma mesma impressão. Sou inconstante, porque, apaixonando-me tantas vezes, não chego nunca a amar uma vez...

- Oh!... Oh!... que horror!... que horror!...

- Sim! Esse sentimento que voto às vezes a dez jovens num só dia, às vezes numa mesma hora, não é amor, certamente. Por minha vida, interessantes senhores, meus pensamentos nunca têm damas, porque sempre têm damas; eu nunca amei... eu não amo ainda... eu não amarei jamais...

- Ah!... ah!... ah!... e como ele diz aquilo!

- Ou, se querem, precisarei melhor o meu programa sentimental; lá vai: afirmo, meus senhores, que meu pensamento nunca se ocupou, não se ocupa, e nem há de se ocupar de uma mesma moça durante quinze dias.

- E eu afirmo que segunda-feira voltarás da Ilha de... loucamente apaixonado de alguma de minhas primas.- Pode bem suceder de ambas.

- E que todo o resto do ano letivo passarás pela Rua de... duas e três vezes por dia, somente com o fim de vê-la.

- Assevero que não.

- Assevero que sim.

- Quem?... eu? eu mesmo passar duas e três vezes por dia por uma só rua, por causa de uma moça?... e para quê?... Para vê-la lançar-me olhos de ternura, ou sorrir-se brandamente quando eu para ela olhar, e depois fazer-me caretas ao lhe dar-lhe as costas?... Para que ela chame as vizinhas que devem ajudar a chamar-me tolo, pateta, basbaque e namorador?... Não, minhas belas senhoras da moda! Eu vos conheço bastante... amante apaixonado quando vos vejo, esqueço-me de vós duas horas depois de deixar-vos, quando me ouve dizer: "sois encantadora", está dizendo consigo: "ele me adora", enquanto eu digo também comigo: "que vaidosa!"