quarta-feira, 3 de junho de 2009

Palavras de Augusto:

- O que quiserem... Serei incorrigível, romântico ou velhaco, não digo o que sinto, não sinto o que digo, ou mesmo digo o que não sinto; sou, enfim, mau e parigoso, e vocês inocentes e anjinhos. Todavia, eu a ninguem escondo os sentimentos que ainda a pouco mostrei: eu toda parte confesso que sou volúvel, inconstante e incapaz de amar três dias o mesmo objeto; verdade seja que nada há mais fácil do que me ouvirem um "vos amo", mas também a nenhuma pedia ainda que desse fé; pelo ao contrário, digo a todos como eu sou; e se, apesar de tal, sua vaidade é tanta que se suponham inesquecíveis, a culpa, certo que não é minha. Eis o que faço. E vós, meus caros amigos, que blasonais de firmeza de rochedo, que jurais amor eterno cem vezes por ano a cem diversas belezas... sois tanto ou ainda mais inconstantes que eu!... Mas entre nós há sempre uma grande diferença; vós enganais e eu desengano; eu digo e vós, meus senhores, mentis...

- Está romântico!... está romântico!...- exclamaram os três rindo às gargalhadas.

- A alma que Deus me deu - continuou Augusto - é sensível demais para reter por muito tempo uma mesma impressão. Sou inconstante, porque, apaixonando-me tantas vezes, não chego nunca a amar uma vez...

- Oh!... Oh!... que horror!... que horror!...

- Sim! Esse sentimento que voto às vezes a dez jovens num só dia, às vezes numa mesma hora, não é amor, certamente. Por minha vida, interessantes senhores, meus pensamentos nunca têm damas, porque sempre têm damas; eu nunca amei... eu não amo ainda... eu não amarei jamais...

- Ah!... ah!... ah!... e como ele diz aquilo!

- Ou, se querem, precisarei melhor o meu programa sentimental; lá vai: afirmo, meus senhores, que meu pensamento nunca se ocupou, não se ocupa, e nem há de se ocupar de uma mesma moça durante quinze dias.

- E eu afirmo que segunda-feira voltarás da Ilha de... loucamente apaixonado de alguma de minhas primas.- Pode bem suceder de ambas.

- E que todo o resto do ano letivo passarás pela Rua de... duas e três vezes por dia, somente com o fim de vê-la.

- Assevero que não.

- Assevero que sim.

- Quem?... eu? eu mesmo passar duas e três vezes por dia por uma só rua, por causa de uma moça?... e para quê?... Para vê-la lançar-me olhos de ternura, ou sorrir-se brandamente quando eu para ela olhar, e depois fazer-me caretas ao lhe dar-lhe as costas?... Para que ela chame as vizinhas que devem ajudar a chamar-me tolo, pateta, basbaque e namorador?... Não, minhas belas senhoras da moda! Eu vos conheço bastante... amante apaixonado quando vos vejo, esqueço-me de vós duas horas depois de deixar-vos, quando me ouve dizer: "sois encantadora", está dizendo consigo: "ele me adora", enquanto eu digo também comigo: "que vaidosa!"

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