domingo, 31 de outubro de 2010

Conversa a mais

- O que foi?

- Estava pensando o quanto eu odeio os humanos.

- Como?!

- Não me leve a mal, acho que temos uma relação de amor e ódio. Eu já amei muito a humanidade, suas teorias para entendê-las, suas linguagens, seus costumes, toda a filosofia que a abrange, sua sabedoria é genuína...

- E então...?

- Estou desiludido. Enquanto estou aqui a conversar com você, outras pessoas devem estar planejando algo para ser o melhor. É da natureza humana a competição, sempre tem um alvo fácil e um prêmio maior e no final... Ninguém conhece ninguém. Não se brincou muito quando foi feita a frase “Quanto mais conheço o homem mais gosto dos animais”.

- Então você prefere os não-racionais?

- Eu prefiro a inteligência usada de modo certo.

- E agora tem modo?

- Tudo bem, quanto mais conheço o homem mais gosto dos números.

- A bomba atômica foi descoberta por um físico.

- Não importa quem fabrica a arma e sim quem puxa o gatilho.

- Isso é uma baboseira.


- É o que eu estou tentando falar desde o início.

domingo, 24 de outubro de 2010

A Carta Sem Significado

Bom dia.

Não vou usar de nenhum vocativo, não quero que a minha voz ecoe na sua cabeça como uma lembrança carinhosa. Se você está lendo esta carta é porque escolheu o copo certo. Chegamos do teatro, você estava cansado e te ofereci um chá. Viemos conversando sobre a peça, sobre a história daquela avenida e sobre o Iluminismo, e eu tive que perder, você sabe que eu estava perdida por isso encerrou o assunto, fechou as janelas do carro e ligou o rádio.

Estou escrevendo esta carta enquanto você toma banho. Era uma coisa que você estava ainda disposto a fazer, e sentia que tinha que fazer. Eu, também, tenho que fazer isso e o melhor de tudo é que não vou ter que explicar o porquê.

Em uma xícara contém sonífero e a outra também um certo tipo de sonífero, só que permanente. Deixarei as xícaras sobre a bancada e deixarei você escolher, enquanto me troco pro nosso último chá.

Boa sorte,
Ruth.

domingo, 17 de outubro de 2010

Saudades, 10

É interessante quando se está com saudade, não importa há quanto tempo você falou com a pessoa, nem importa o que disseram na última vez, saudade é saudade e ponto final. A verdade é que de interessante isso não tem nada, saudade é uma dor constante, ainda mais quando você não sabe quando vai falar com a pessoa de novo, aí fica foda, foda mesmo. Você pode virar de um lado pro outro, tentar pensar em outras coisas e pessoas, mas sempre tem um parênteses de saudades. Saudade não é brincadeira, não, se você se atormenta em senti-la é bom tratá-la, com presença diária ou extermínio total.

E tem aqueles que dizem que tudo é melhor com saudade, não tenho com o que discordar, não, viu. É uma força que toma e fica um absurdo,quando você encontra a pessoa parece que não sente a gravidade, nem nenhum zumbido.

É estranho quando se está com saudade, o interessante é o quanto você fica com e quanto tempo você aguenta até mandar tudo pro caralho e correr atrás da pessoa.
Só tenho mais uma notícia, estou morrendo de saudades.

sábado, 16 de outubro de 2010

Alto do 14º andar

- Ai, não me larga, não me larga!
- Não vou te largar, aproveita.
- Me puxa de volta, me puxa de volta.
- Não tá divertido?
- Não, me puxa de volta!
- Mas a ideia foi sua.
- Me puxa de volta!
- Você nunca foi tão dependente de mim, hein, e de repente a sua vida está a quatorze andares. Posso fingir que sou Deus, sou dono da sua vida, sabia?
- Seu idiota, me larga pra você ver.
- Haha, honey, honey, e você fará o quê? Me mande um recado de lá.
- Ai, meu Deus, você está louco, me puxa de volta, pelo amor de Deus.
- Ops, soltei um braço.
- Eu faço tudo o que você quiser, mas não me solta, por favor... por favor, pelo amor de Deus... por favor...
- Voe como você pode.