quarta-feira, 30 de junho de 2010

For No One.

A idade pode acabar embalando suas mediocridades junto com o tempo, fazendo com que vários desejos voltem, fazendo a adição de manias que parecia ser só mais uma, e fazendo, ainda, que noites de reflexão sobre o que já viveu e sobre o que ainda tem pra viver aterrorizem por algumas horas.

A verdade é que eu sinto falta de muita coisa, até das coisas que eu achava que não me fariam falta. Descuidei-me de alguém, magoei outrém mesmo quando não foi a minha verdadeira intenção, outras o tempo tomou conta. Talvez saudade tenha tomado o lugar do arrependimento, e agora só oscila de modo freqüente e com força variável.

Eu sinto falta do meu avô, talvez de não ter só uma certeza na vida, de dormir no ônibus, de passar da parada, de quem me chamava de “broto”, das cartas de Aracajú, do teatro, do centro do Rio de Janeiro, da Praça das Águas, de quando a pilha do discman acabava na melhor música, quando eu ficava com “Do Sétimo Andar” na cabeça, do Clube da Calçada, do RPG, de matar a aula de inglês pra fumar, de matar qualquer aula, de ir pra lan house, do Nintendo, da luta pelo melhor controle, de poder justificar a perda por não estar com o melhor controle, das horas do telefone com o Pecê, do All Star preto de cano médio, das blusas da Warner, do gesso do braço direito pixado, do beijo e do escarro, das histórias do meu avô, do “alô” do meu avô, do Fusca, do Gol, de me apresentar com outro nome, de cantar Cachorro Grande o mais alto que puder, do início da Les Claps!, dos pés de acerola, dos dezesseis anos, de quem estalava meus dedos, da rede, do Underground, da Mona Lisa Plug, do meu cachorro, de como o meu cachorro me pedia comida, dos desenhos com raspas de giz de cera, dos dias em que eu consegui sentir intensamente todos os sentimentos conhecidos, das dores de bochecha de tanto rir, das lutas de vassoura, de travesseiro e punho, de algumas conversas de antes, das primeiras conversas pelo celular, de me sentir awesome, do cabeludo da locadora que me indicava filmes bons, dos lanches da madrugada, de jogar dominó, do professor de biologia, da terceira temporada de House, Frinds e The O.C, de Andy Milonakis, de E24, do tapete marrom, de mais Beatles, de ser a Something e Tickettoride, de banana com açúcar e canela, de goiabada com queijo coalho, das longas viagens de carro, das longas viagens de carro na chuva, chuva de granizo, da câmera fotográfica amarela, de quando eu achava que cinco reais era muito dinheiro, de quem me ensinou a tragar, de quem me apresentou Mutantes, de quem era louco por Mutantes, de quem tocava guitarra com o coração, de quem tocava guitarra branca, de quem só usava camisetas brancas, de quem passeava com o cachorro na mesma hora, de quando eu era mais ignorante, de quando eu não morria de saudade de alguém que não falo há dois dias, de quando eu me desapegava fácil e nunca me dei conta do que realmente me fazia falta, mas principalmente de não sentir falta.

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